A LUZ


       Uma ousadia é alguém aventurar-se a falar sobre a luz, talvez o mais intrigante fenômeno com que a Natureza nos presenteia todos os dias.

       Comecemos pela fotossíntese. literalmente "síntese de luz" ou "síntese pela luz".

       Destaquemos aqui dois aspectos, isto é duas manifestações  de luz em processos naturais: 

1) a luz como catalisador da reação de assimilação clorofiliana, modernamente denominada fotossíntese.

2) a própria luz em si como forma de energia pura capaz de materializar-se como massa, física, ponderável.

       A luz, na verdade, não é o fenômeno primeiro. Ela é precedida por um outro fenômenpo ainda mais sutil, mais delicado: o calor

       Calor é o fenômeno primeiro, primordial, o gerador de luz. Se eu coloco uma barra de ferro no fogo, primeiro ela se aquece. Em seguida entra em incandescência e emite luz.

       O calor está na faixa do infra-vermelho. O espectro de luz começa pelo vermelho  e continua manifestando-se em crescentes frequências de ondas cada vez mais curtas. 

       Passa pelo laranja, amarelo, VERDE, azul, anil, violeta. Aí termina o erroneamente chamado "espectro visível".Em seguida vêm outras radiações, igualmente invisíveis, ultra-violeta, raios gama, raios-X, raios cósmicos...

       Poderíamos generalizar como sendo todas radiações de luz , em diferentes frequências, centralizadas no verde, no meio do espectro, a cor mais abundante na natureza terrestre.

       O verde, o "chloros", é a cor da clorofila, o principal pigmento responsável pela assimilação clorofiliana, a fotossíntese. A folha é verde porque capta as diversas frequências, à direita e à esquerda, e libera a frequência central "verde". Sobre a folha incidem os raios solares, invisíveis, nos mais variados comprimentos de onda. São invisíveis, porém reconhecemos sua existência pelos efeitos, benéficos ou deletérios, em função da intensidade.

       A Natureza é sábia. Se as radiações solares fossem visíveis, o espaço todo estaria saturado de luminosidade, ficaríamos obcecados  e não poderíamos perceber a riqueza multifacetada pelas sutis nuances refletidas e visibilizadas pelos objetos iluminados pelo Sol , ou por uma vela ou por uma lâmpada.

       A  luz invisível torna os objetos visíveis. Se houvesse  saturação total de luz no espaço,  todas as coisas seriam  invisíveis.

       É a sabedoria da Natureza.

       Numa noite de plenilúnio vemos a Lua esplendorosa no céu, iluminada pelo Sol. Vemos a Lua, mas não vemos a luz, não vemos nenhum rastro de luz em seu percurso desde o Sol até a Lua. O céu noturno é escuro . A luz solar, invisível, cruza o céu e  torna  a Lua visível. O luar, a luz solar lunar, ilumina a Terra noturna. 

       Da mesma forma os planetas e seus satélites. Só são visíveis à noite.  A saturação luminosa diurna invisibiliza os astros. Vejam quanta sabedoria.

       Por que todo esse universo fenomenológico passa despercebido? É porque o homem está saturado de percepções sensoriais. Está eclipsado pelo excesso  físico material, e não tem tempo para orar, refletir e meditar, e abrir a cortina e a janela  e vislumbrar a beleza que se descortina ante  seus olhos, oculta por trás das aparèncias.

       Assim como a luz  nos ilumina, assim também o calor  nos aquece.

       O Sol é a nossa fonte, de luz, de calor e de vida. O interior do Sol é quente. Ali a temperatura alcança 20 milhões de graus centígrados. Na superfície a temperatura do Sol oscila em torno de 

6000 °C. Ocorre portanto um gradiente negativo de calor do núcleo para a periferia. À medida em que se distancia do centro, a temperatura solar tende a baixar. E continua baixando pelo espaço a Cfora até alcançar uma temperatura tão baixa, próxima do 0 K, zero graus Kelvin, o zero absoluto, equivalente  a -273,1516 °C graus centígrados negativos.

        É a temperatura mais baixa, ou o frio mais frio jamais possível. Seria o frio reinante se  todos os átomos estivessem em repouso.

       Em suma, o calor do Sol sai quentíssimo do núcleo, chega quente na periferia, continua esfriando em todas as direções,  desaparece quase que por completo,  atravessa o  espaço sideral hipergelado, e quando se aproxima da Terra manifesta-se de novo como calor físico, mensurável pelo termômetro, podendo alcançar 40 graus ou mais,conforme a intensidade, às vezes  insuportável. É o calor frio que nos aquece e nos faz sentir  calafrios, ante  a grandeza do fenômeno.

       Mesmo assim há pessoas que vão à praia para   banhar-se, iluminar-se  e aquecer-se, e voltam para casa, sem se dar conta do milagre que acabaram de vivenciar.

       Shakespeare pensava diferente, em Hamlet:

       "Entre o Céu e a Terra existe algo mais, Horacio, que tua vâ filosofia não pode nem sonhar."

       "There are more things in Heaven and Earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy."


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