ANGRA 3

 

       


       Ao refletir sobre esta matéria vêm-me à mente as sábias aulas de José Lutzenberger, o grande ecologista brasileiro, onde ele investia vigorosamente contra a energia nuclear. 

       Eu, de minha parte, já em 1969, sem eu saber, me via envolvido no Programa Nuclear Brasileiro, ao ser contratado para dar aulas diárias para o diplomata Paulo Nogueira Batista e prepará-lo, em língua alemã, para assumir o posto de Ministro Conselheiro na Embaixada Brasileira em Bonn, capital da Alemanha Ocidental.

       Grande responsabilidade.

       Cinco anos depois Paulo Nogueira retorna ao Brasil e assume a presidência da Nuclebrás.

       A princípio eu nada entendi. 

       Só fui entender depois.

       Inocentemente fui contratado para dar cursos intensivos permanentes de língua alemã para os diversos diretores da Nuclebrás e da Comissão Nacional de Energia Nuclear, a CNEN.

       Aceitei o encargo, pois seria regiamente remunerado e ainda coincidia com o período em que eu começava a me aprofundar no estudo da agricultura biodinâmica e de suas transmutações biológicas.  No curso eu teria a oportunidade de debater com meus alunos, as maiores autoridades em Energia  Nuclear e em reações de transmutação a alta energia. Era um prato feito para mim.

       Uma vez, no cafezinho, em conversa reservada com um Diretor, ele me confidenciou, que o Brasil vinha conduzindo negociações secretas com a Alemanha para implantar no Brasil a Usina de Angra 2 e mais  outras sete, com a tecnologia alemã chamada "Jato Centrifugado", em alemão "Trenndüsen".

       A novela estava comçando.

        É que para implantar Angra 1, fora contratada a norte-americana Westinghouse Electric, com sua tecnologia própria , a PWR, a Pressurized Water Reactor, para enriquecer urânio.

       Entendamos o assunto.

       A sabedoria da natureza é o reflexo da sábia atuação das hierarquias espirituais superiores. Justamente uma dessas elevadas hierarquias são os Espíritos da Sabedoria, os chamados Kyriotetes, situados logo abaixo de Tronos, Querubins e Serafins.

       Na montagem dos elementos da Tabela Periódica, os Kyriotetes tiveram o cuidado de introduzir nos respectivos núcleos um número  de nêutrons, suficiente para neutralizar a  força repulsiva dos prótons, de  carga igual, positiva. mutuamente repelente.

       A sábia natureza, resultante da superior atuação hierárquica, determina que , componentes de carga igual, se repelem, os de carga contrária se atraem, os de carga nula dominam a violência inerente aos  de mesma carga positiva. Esse sábio princípio é válido para todos os elementos, exceto para o número 1, o hidrogênio, o protoelemento, que possui apenas um próton e, sozinho, não tem com quem brigar.  

       Na natureza ocorrem também isótopos, elementos de mesmo número atômico e de massas diferentes. É o caso do urânio , o U235. que possui 3 nêutrons a menos que  o U238.  O U235 é menos estável, logo mais fissionável,ou físsil, menos coeso. É mais vulnerável ao ataque de qualquer catalisador.

Porém esse urânio isotópico,  U 235, ocorre apenas como uma fração, equivalente   a 0,7% do urânio total. 99,3% do uranio natural é "impróprio" para a reação em cadeia. É necessário então "enriquecer" o combustível ao patamar de 3 a 5% de U235.

       Para tanto os pesquisadores desenvolveram várias técnicas de "enriquecimento de urânio", dentre as quais a chamada PWR.

       Para implantar Angra 1  a norteamericana Westinghouse Electric, utilizou  a sua própria tecnologia PWR, Pressurized Water Reactor, Reator de Água Pressurizada, água leve, H2O,  capaz de gerar 640 MW (megawatts) de energia elétrica para atender uma população de 1 a 2 milhões de pessoas.

       Para Angra 2, no auge da ditadura brasileira, Ernesto Geisel, presidente e militar, guerreiro, de ascendência germânica,  optou pela tecnologia alemâ do "Jato Centrifugado", em  alemão "Trenndüsen".

       Em 27 de junho de 1975 foi assinado em Bonn o Acordo Nuclear Brasil -Alemanha. O Acordo do Século, anunciado na primeira página dos principais jornais da época: Brasil ingressa na era nuclear.

       O Acordo era excepcional. Previa um orçamento de 10 bilhões de dólares, e pela primeira vez incluía a transferência de tecnologia para os brasileiros.

       Eu, pessoalmente, já metido naquele enredo desde o início do ano, muito desconfiei. Mas segui, cumprindo minha obrigação. Ainda inaugurei um curso autônomo de lingua alemã em Ipanema, comprei um fusca, troquei por um Chevrolet Opala, vendi o Opala e comprei um Dodge Dart de 8 cilindros, comprei uma Rural Willys utilitária, e por fim um sítio de de 27,2 hectares, como eu queria, nas montanhas de Nova Friburgo, a 1100 m de altitude, o ponto mais alto da região.

       Não podia me queixar de nada.

       A Nuclebras exigia aulas diárias, às 7 horas da manhâ, para não interferir no expediente dos Diretores.  Dali eu seguia para a CNEN. À tarde e à noite em Ipanema, até as 21 horas. De 21:30 às 22;30 dava aulas particulares para o Diretor da IBM e sua filha Noemi.

       Era o melhor dos mundos, os anos das vacas gordas.

       Com os engenheiros nucleares eu levantava a questão das transmutações. Uma dia eu chamei um dos doutores para explicar para a turma, em alemão,  o que era  transmutação biológica dos elementos químicos a baixa energia. A alquimia vegetal, catalisada pelos preparados homeopáticos biodinâmicos.

       Ele não sabia.

       Após a assinatura do Acordo,em junho de 1975, vieram os alemães e diariamente, esperavam do lado de fora e pontualmente, às 8;15, entravam na sala para debater  o detalhamento das cláusulas do referido Documento..

       Só uma vez eu esperei .para tomar café com um deles e conversar, sem debater.

       Embora eu desconfiasse, o Acordo parecia muito bom. 

       Com um detalhe: Aquela tecnologia estava ainda em fase de testes  e as conclusões seriam no Brasil. Era a Centrifugação a Jato. (In) Felizmente, a transferência de tecnologia não foi permitida pelos americanos, temerosos de serem superados pelos brasileiros e de terem mais um concorrente na fabricação de bomba atômica.

       O detalhe é que as  tecnologias  para enriquecimento  de urânio para uso pacífico em reatores nucleares podem ser aperfeiçoadas  para a fabricação de bombas atõmicas, ferindo os interesses norte-americanos.

       Eu, de minha parte, continuei dando minhas aulas, faturando alto e aguardando os acontecimentos. Eu queria acompanhar a novela de perto.

       E perguntava a mim mesmo,baixinho, de que os americanos tinham tanto medo? Em que consistia o bendito enriquecimento de urânio por jato centrífugo?

       Fui atrás. 

       A massa sólida de urânio é gaseificada e submetida a uma centrifugação em alta velocidade para separar o urânio isotópico U235 do urânio natural U238. até alcançar um teor entre 3 a 5 % de U235, físsil. próprio para uso pacífico em reatores nucleares.

       Porém se o processo for aperfeiçoado para alcançar uma concentração de 90% de U235, 

essa massa altamente enriquecida, servirá para produzir armas nucleares, para  fins bélicos. 

       Esse era o medo. Somente os EUA tiveram, em dois momentos , em 6 e  9 de agosto de  1945,  o privilégio de lançar duas bombas em Hiroshima e Nagasaki, antes de os Alemães concluírem a sua Grande Arma ( Die Grosse Waffe ) a qual, uma vez pronta, cairia sobre Londres e Paris. 

       Graças à competência de Oppenheimer, a História saiu  diferente. No dia 15 de agosto de 1945, o Imperador Hiroito, que pretendia lutar até o último homem,  assinou sua capitulação. Oppenheimer, o grande herói, foi aclamado como o novo deus mitológico Prometeu,  que na mitologia grega, havia trazido o fogo do Olimpo para uso na Terra. Como castigo, Prometeu foi acorrentado a uma rocha, e passou o resto do tempo sendo  fustigado e atormentado por uma águia que periodicamente. vinha bicar-lhe o fígado..

       O mesmo destino coube a Oppenheimer. Arrependeu-se de sua invenção e desde então, relegado ao ostracismo, sem receber mais nenhum apoio oficial, terminou seus dias melancolicamente, batalhando para impedir a proliferação de armas nucleares.

       Neste sentido, em deferência a Oppenheimer, foi assinado, no dia 14 de fevereiro de 1967, na Cidade do México, o Tratado de Tlateltolco de Não Proliferação de Armas Atômicas , abrangendo  a América Latina e o  Caribe.

       O Brasil, governado por ditadores militares, belicosos e germanófilos, no afâ de afirmar-se perante os EUA, recusou-se a assinar  o Acordo de Tlateltolco, a bem da nossa soberania.


       O Brasil podia fabricar uma bomba atômica, mas não tinha tecnologia.

       A Alemanha tinha tecnologia, mas não podia fabricar a bomba, por exigência das quatro potências vitoriosas na II Guerra Mundial.

       Casaram-se os interesses. Que tal fabricar a bomba alemã no Brasil? A bomba teuto-brasileira?

       Eu, na minha insignificância, discordava, e já vinha pensando em sair fora do Acordo. Mas o salário era muito bom, eu ia empurrando e adiando minha decisão. Até que, em dado momento, meditei, perguntei ao nitrogênio, criei coragem, vendi o Dodge Dart, cancelei todos os compromissos, juntei uma boa poupança e fui morar na roça,  no Sítio Bonsucesso, a 1100 metros de altitude, perto de Nova Friburgo, nas montanhas de Duas Barras, terra natal de Martinho da Vila, meu ídolo, e que também tinha um sítio nas proximidades e organizava rodas de samba.

       Mudei-me para lá, de mala e cuia, meus discos,  meus livros, e nada mais. Não tinha luz elétrica, nem TV, telefone nem pensar, computador não existia. Tinha uma eletrola antiga para ouvir música e um radinho de pilha para ouvir notícias.  

       O sítio reunia as condições ideais: altitude, frio, mata nativa, minas dágua, uma piscina e silêncio total, só  interrompido pelas aves canoras.

       Paguei as últimas prestações para a antiga proprietária, D. Anneliese Schertenleib. Frequentemente eu a recebia com seus dois filhos, Roberto e Carlos. Ficamos amigos e eu até batizei o caçula, o Carlos.

       Casei-me com Luciana em 1980. Nos 10 anos seguintes nasceram nossos quatro filhos, Flávio, Marcos, Fernando e Marcelo. um a cada três anos. Tiveram a melhor infância, sem tecnologias. frequentando a Escola Rural local.

       De longe eu me mantinha informado. Foi no radinho de pilha que eu fiquei sabendo que o Acordo Nuclear fora desfeito. Ótima notícia.

       Sob o comando do Almirante Othon Pinheiro, os técnicos brasileiros se uniram, e decidiram desenvolver uma tecnologia própria, batizada com o nome de " Ultra centrifugação a jato." É a que funciona hoje em Angra 2.  Pelo que me diz me disseram a entrada lá é proibida. Os americanos queriam entrar para fiscalizar e bisbilhotar. Mas era  dificil, parece. Gradativamente o Brasil se emancipava, embora o posterior governo brasileiro, socialista,PT, tenha ainda tentado renovar o Acordo com a Alemanha. A idéia não prosperou.A própria Angela Merkel decidiu fechar todas as usinas nucleares, respondendo aos anseios dos ecologistas e da juventude esclarecida.

       Não satisfeito, o Brasil, embora já possuidor de tecnologia própria, tenta ainda hoje aproximar-se mais do Irã, que busca, a todo custo, concluir suas pesquisas em centrifugação e, possivelmente , enriquecer urânio a 90%, a altíssima velocidade. O Brasil quer chegar lá e ganhar um assento permanente no seleto clube do Conselho de Segurança. da ONU.    

       Pura megalomania..

       Este é o cenário atual global. A Ucrânia renunciou à bomba atômica e cedeu todas suas ogivas nucleares para a Rússia de Putin, sob o compromisso de Putin jamais atacar a Ucrânia. Em vâo. Putin atacou a Criméia, o Donbass e a Ucrânia toda. Agora paga um preço alto ao pressentir  uma derrota iminente.

       O Irã, por iniciativa de Barack Obama,  fechou um acordo, limitando-se a pesquisar o urânio somente para fins pacíficos, em troca da liberação de várias sanções impostas pelos EUA e potências européias, co-signatárias do Acordo.

       Trump, em seu primeiro mandato, anulou os acordos de  Obama , impôs novas sanções  e obrigou  o Irâ a retomar as pesquisas com vistas à bomba.

       Esse fato é usado para justificar o conflito Irâ- Israel.

        Donald Trump, limitado por todos os lados, desesperado com a guerra tarifária, à beira da guerra civil, com as prateleiras vazias e os portos abarrotados de mercadorias que não desembarcam, hesita em apoiar Israel, temendo a ira de Alá e  dos Aiatolás.

       Em Israel, Netaniahu insiste em prolongar a guerra para beneficiar-se da imunidade parlamentar e livrar-se, temporariamente, dos quatro processos que correm contra ele na justiça israelense e no Tribunal Penal de Haia, Holanda.

       No Brasil, o Programa Nuclear sofreu um rude  golpe, quando seu principal mentor, o Almirante, foi surpreendido pela Operação Lava Jato,  em transações suspeitas com a Empreiteira Odebrecht durante a construção de Angra 3. Após longa interrupção as obras foram reiniciadas, em novas bases. Tudo isso para suprir 3% das necessidades totais do país em energia elétrica.

       Essa bomba vai sair caro.

       No Brasil a direita e a esquerda alternam-se no poder. Mudam as cores, mudam as bandeiras, mudam as pessoas, a essência não muda. Lula=Bolsonaro e vice-versa. São tão iguais que os dois idolatram o Putin, igualmente.. É o império da psicopatia, tomando  decisões em nosso nome., em proveito próprio. Ambos nutrem-se da miséria que eles criam.

       

       Termino aqui com duas observações: 

       1) Esse não é "O Fim da História", segundo Fukuyama

       2) " A tecnologia nuclear é uma tecnologia indecente e imoral."  José Lutzenberger

       

       



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