Projeto Nossa Terras Caipora por Matheus Sborgia

Um sistema agroecológico que preserva a biodiversidade, respeita os animais e os ritmos da natureza.


O projeto
A fazenda é localizada no coração do cerrado — a savana tropical com a maior biodiversidade do mundo. Este bioma, que representa 22% do território brasileiro, está rapidamente desaparecendo graças às práticas agrícolas insustentáveis. Mais da metade do seu território apresenta sinais de degradação e espécies endêmicas estão cada vez mais em processo de extinção. Nascentes estão secando, plantas morrendo e animais vivem enormes dificuldades de encontrar comida. Estamos transformando nossos prados em deserto por troca de capital. Cada vez mais, áreas são desmatadas tanto para a monocultura de soja transgênica voltadas à alimentação animal em outros países quanto para a pecuária extensiva. O gado acabou compactando o solo, secando nascentes e erodindo milhares de hectares. Contudo, não podemos culpar o animal por ser ele mesmo, mas sim à ganância do homem, por sua crua irresponsabilidade e má gestão.
Meu objetivo é recuperar parte deste bioma que tenho o privilégio de chamar de casa. Os 242 hectares da Fazenda Terras Caipora servirão de exemplo para produtores de pequeno e grande porte. Terras Caipora mostrará que existem formas mais sustentáveis e eficientes de criar animais. Demonstrar que um sistema de permacultura onde plantas, animais e pessoas coexistem é possível. Um sistema que preserve e valorize a biodiversidade, que respeite os ritmos da natureza, amplifique matéria orgânica, sequestre mais carbono da atmosfera e alimente pessoas e solo simultaneamente.
Como o sistema funciona?
A ideia é basicamente melhorar a gestão do mesmo elemento que a princípio causou tanto estrago — O próprio animal.
A vaca, é um ruminante que pelo simples fato de comer capim, é capaz de transformar luz solar em proteína de ótima qualidade. Terras Caipora busca estabelecer a relação ideal entre animal e capim através de um processo conhecido como pastoreio racional Voisin — um manejo agroecológico de pastagens.
Com o uso de cercas elétricas, o projeto visa dividir a fazenda em várias pequenas parcelas onde o gado terá acesso a capim fresco todos os dias e o capim terá o tempo necessário de repouso antes de reencontrar o animal. Cria-se assim um sistema onde o ruminante passa a podar capins e leguminosas perenes para a própria alimentação e retribui com esterco de ótima qualidade para fertilizar o solo de forma natural. O resultado deste método é a melhora da fertilidade do solo, maior tempo para as plantas desenvolverem raízes mais profundas, maior eficiência de retenção de água das chuvas devido a um aumento de matéria orgânica, a prevenção da erosão do solo e logicamente o bem-estar animal.
Plantas, ou no caso capins, produzem sua própria energia através de um processo chamado fotossíntese. Um processo onde a planta fundamentalmente utiliza a luz, água e gás carbônico para sintetizar açúcares simples (glicose) e oxigênio como subproduto. Acontece que grande parte deste carbono pode também ser retido por sistemas radiculares das plantas através de um fenômeno conhecido como sequestro de carbono. Além do mais, associações simbióticas entre fungos e plantas denominadas micorriza, e milhões de microorganismos que vivem debaixo da terra se beneficiam deste processo e contribuem para a fertilidade do solo.
Herbívoros e capins coexistem por pelo menos seis milhões de anos. Forragens perenes, quando cortadas pelo dente do animal usam a energia estocada no sistema radicular para crescer novamente. O ciclo metabólico destas forragens é muito mais rápidos do que o das árvores, o que permite um sequestro de carbono bem mais eficiente, principalmente se o sistema como um todo for integrado com florestas nativas. Na época atual o sequestro de carbono é uma abordagem fundamental a considerar se atuarmos na agricultura.

Tudo começa com pequenos primeiros passos…

...Mas para que isso aconteça o projeto precisa do seu apoio.
0. Desenvolvimento logístico do projeto junto ao professor Jurandir Melado da Fazenda Ecológica Santa Fé do Moquém.
1. a) Divisão da fazenda em aproximadamente 100 parcelas com o uso de cercas elétricas, painéis solares e baterias.
b) Melhoramento de represas e reservatórios d’água de forma estratégica para abastecer a fazenda e bebedouros através da força de gravidade.
2. Criar um serviço de arrendamento ou parceria onde os animais de outro produtor/fazendeiro irão pastar na Terras Caipora sob o nosso manejo. Assim, usarei estes animais para alimentar o solo e recuperar áreas degradadas e, além do mais, não precisarei investir em animais novos.
3. Na natureza as aves estão sempre seguindo os herbívoros. Haverá uma estrutura móvel para galinhas poedeiras que seguirá o trajeto dos ruminantes. Elas ajudarão a espalhar o esterco do gado no pasto, sintetizando o solo por se alimentar de larvas e outros insetos, aeração do solo e produção de \ovos para o consumo humano.
4. Quando a hora chegar, cultivos anuais e perenes serão integrados nesta mesma rotação pastoril com o objetivo de atingir um sistema circular de produção alimentar.
Esta estratégia garantirá uma receita já no primeiro mês e aos poucos Terras Caipora terá condições de obter os próprios animais para assim iniciarmos uma nova fase — A criação de uma carne sustentável, orgânica e 100% a pasto.

Mais informações sobre o projeto, acesse: https://www.catarse.me/nossa_terras_caipora_fd2c?ref=ctrse_explore_pgsearch&project_id=85111&project_user_id=907247

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