FENOMENOLOGIA
O observador fenomenológico mantém a devida distância do fenômeno observado. Ele ganha assim a necessária objetividade em suas pesquisas, e vai fundo. E aprende a distinguir o essencial do não essencial, a separar o fato da ficção, o verdadeiro do falso.
Essa exigência é válida para qualquer fenômeno, seja no campo da botânica, da zoologia, da sociologia, não importa a sua natureza específica.
No âmbito dos fenômenos sociais, é indispensável que o pesquisador seja isento de qualquer cor ideológica.
Ideologia é um artifício para torcer os fatos segundo a conveniência de cada um.
Um mesmo fato é interpretado de diferentes formas conforme as diferentes ideologias.
Por exemplo, algo está acontecendo no espaço russo-ucraniano que dá margem a vários posicionamentos.
Nada melhor do que fatos para esclarecer eventuais dúvidas ou fantasias criadas pelas técnicas de sugestão ou de auto-sugestāo.
Desde o fim da 2* Guerra Mundial a vitória das potências aliadas é comemorada no Ocidente no dia 8 de maio.
A Rússia, uma das aliadas vitoriosas, comemora no dia seguinte, no dia 9/5, o Dia da Vitória na Guerra Pátria (Отечественная Война).
A vitória foi dos aliados. Para os nacionalistas a vitória foi da Pátria.
A Ucrânia foi quem mais sofreu, sob Stalin e sob Hitler, antes e durante a guerra. A vitória é celebrada na Praça Vermelha, em Moscou.
Aproveita-se o Dia para exibir todo o aparato bélico, para impressionar o público, interno e externo. Os mais crédulos se deixam impressionar.
Em 1962 a "crise dos mísseis" foi emblemática. No confronto
Kennedy -Khrushov, o Soviético foi sensato e voltou atrás. Não instalou mísseis em Cuba. Reconheceu sua inferioridade bélica e pagou caro por ter sido sincero. Khrushov foi deposto do cargo e condenado a prisão perpétua domiciliar.
Em 23 de agosto de 1939 Alemanha e URSS (Hitler e Stalin) assinaram o Pacto de Não -agressāo Nazi-soviético (Nicht-Angriffspakt). Os dois arqui-inimigos, agora unidos com objetivos comuns. Ficou ali decidida a divisão da Polônia entre os dois aliados, a divisão dos três países bálticos, Letônia, Estônia e Lituânia, e a tentativa de anexar também a Finlândia à URSS, tudo em comum acordo.
Uma semana depois, tropas da SS alemã simularam um ataque polonês a tropas alemãs, fornecendo a Hitler o pretexto para invadir a Polônia e iniciar ll Guerra Mundial, no dia 1° de setembro de 1939.
16 dias depois, no dia 17 de setembro, cumprindo a sua parte, a URSS(Stalin) invadiu a Polônia do outro lado e ocupou a sua metade.
São fatos históricos que demonstram como os extremos se tocam e se igualam. E por fim se aniquilam.
O Pacto durou quase dois anos, período em que a Rússia soviética revelou-se fiel aliada da Alemanha nazi-fascista.
No dia 21 de junho 1941 a URSS enviou à Alemanha um comboio com dezenas de vagões carregados de trigo da melhor qualidade, produzido nas férteis Terras Pretas, o "tchernozem" (Чернозём).
No dia seguinte, no dia 22 de junho de 1941, traiçoeiramente, a Alemanha (Hitler) invadiu a URSS, e o sonho de Stalin se desfez.
O amigo era agora o agressor.
A URSS não estava absolutamente preparada para tremendo golpe. Militarmente enfraquecida, visto que vários de seus melhores generais haviam sido sumariamente executados durante o Grande Expurgo nos últimos anos anteriores. 80% dos comandantes foram expurgados em tempos de paz.
Registrou ainda grandes perdas pela obediência cega aos novos superiores, incompetentes, porém leais. Para resistir ao invasor aceitou a ajuda do Ocidente, e dos Estados Unidos.
É importante atentar a esses detalhes, e daí tirar conclusões que se aplicam aos dias atuais.
Até recentemente a economia russa era sustentada pela venda de gás e óleo para o Ocidente, sobretudo Alemanha. Anualmente o mundo assiste ao espetáculo apresentado em 9 de maio na Praça Vermelha.
E a cada ano a Parada envia sinais reveladores.
Até 2021 o discurso era veemente, e a par dos pesados armamentos, também a quadrilha da fumaça se exibia no céu de Moscou, num grandioso espetáculo multicolorido.
Em maio de 2022, logo após os primeiros fracassos da Operação Especial na Ucrânia, a retórica perdeu força.
E a fumaça colorida se dissipou, antes de aparecer.
Não houve pirotecnia no céu.
E as derrotas se sucederam, até a virada do Ano Novo.
Todo aquele aparato bélico exibido ao público, na prática não funciona.
Incapaz de se sustentar no campo de batalha, o "estrategista" putiniano ataca as estruturas civis, na esperança de eliminar o povo que ele antes pretendia salvar.
E se ele agora for uma vez sensato, como Khrushov, e se retirar, humilhado, será fatalmente deposto, ou até envenenado.
A fenomenologia de 2023 nos dará as respostas por que tanto ansiamos.
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