O fantasma

   Uma das situações mais aflitivas por que eu já passei foi no tempo em que eu trabalhava no Projeto Mendanha, em Campo Grande, um bairro periférico situado na zona oeste do Rio de Janeiro, e apoiado pelo Banco da Providência, um banco social vinculado  à Arquidiocese carioca. Por  sinal foi o projeto onde eu obtive os melhores resultados agronômicos, comandando 20 homens e fornecendo alimentos para a Colônia de Emaús, a qual abrigava 600 internos em processo de recuperação. Foi muito gratificante em todos os sentidos.


   Nos dias da semana em que eu trabalhava no projeto eu me hospedava, sozinho, num velho casarão desabitado, no 3º andar, no último quarto no fim do corredor.Eu próprio escolhera este quarto que era revestido com Pinho de Riga na passagem entre dois ambientes. Para não despertar qualquer suspeita, eu mantinha as luzes apagadas, para minha segurança. Nunca tive problemas.

   Até que um dia, aliás uma noite, por volta da meia-noite, acordei sobressaltado, ouvindo ruídos estranhos que vinham lá de baixo, do 1º andar. Prestando mais atenção percebi que eram violentos golpes desferidos contra a porta da frente. Era alguém querendo entrar. Após algum tempo os golpes pararam,  e fêz-se silêncio. Aí pude escutar nitidamente os lentos passos de uma pessoa subindo as escadas. Levantei-me com cuidado, coloquei-me junto à porta, e  no escuro total aguardei os acontecimentos. Os passos iam-se tornando mais audíveis, até começarem a provir do início do meu corredor, em minha direção. Quase desesperei.

   Foi neste momento que eu tive a brilhante inspiração: levei as duas mãos à boca e produzi um som característico, imitando fielmente a voz de um fantasma. O indivíduo estancou na hora, fêz meia-volta, disparou correndo escada abaixo e escapou  pela porta  da frente, sem sequer lembrar-se de fechá-la atrás de si.

   Eu também escapei.

 João Carlos Avila

Comentários

  1. Que força enorme de espírito você teve, estou impressionada como soube dominar o medo,você sempre nos mostrando a saída, bravo!
    M.L.Sermet

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