Bento Gonçalves e Bento Ribeiro

Recentemente alguém me disse que nunca houve guerra civil no Brasil. Discordo.
O próprio historiador Pandiá Calógeras, não era um militar. Além de historiador era também engenheiro, civil. Porém, graças à sua competência, foi nomeado pelo Presidente Epitácio Pessoa para o cargo de Ministro da Guerra. Foi um típico caso de Ministro da Guerra civil.
Um outro exemplo bem conhecido foi a Guerra dos Farrapos, iniciada no Rio Grande do Sul,
 em 20-9-1835, e concluída quase dez anos depois em 1-3-1945, chefiada pelo Coronel Bento Gonçalves, e afinal sufocada pelo Marechal de Campo Barão de Caxias, o patrono do exército brasileiro.
Os "caramurus", monarquistas, enfrentaram os "farroupilhas", republicanos.
Dom Pedro ainda não era imperador, por ser de menor idade. Padre Feijó era o Regente, interino, sem ter o cacife de um monarca.
Mesmo representando uma futura monarquia, o Padre não conseguiu se impor. Os Farroupilhas, mesmo mal vestidos, passaram à luta armada, e sob o comando de Bento Gonçalves, invadiram Porto Alegre e expulsaram o Presidente da Província.
Assumiu então o Vice- Presidente Marciano Ribeiro, que era simpático aos Farrapos, o que provocou a ira do Pé. Feijó, o qual reagiu prontamente, nomeando José Ribeiro para Presidente do Rio Grande do Sul.
Os Farroupilhas não desanimaram. Invadiram Pelotas e prenderam o comandante legalista, o monarquista Marques de Sousa, num velho navio, usado como prisão, de segurança mínima. Marques de Sousa fugiu do navio, reassumiu o comando legalista, reconquistou Porto Alegre, depondo o Presidente Marciano Ribeiro e ocupando até a Lagoa dos Patos. Já anteriormente, com a nomeação de Araújo Ribeiro para Presidente, os legalistas conseguiram a adesão do ex-chefe farroupilha Bento Ribeiro, parente do Presidente.
Após várias batalhas entre Farrapos e Legalistas, finalmente em 10-9-1836, os Legalistas, Monarquistas, foram derrotados, e no dia seguinte foi proclamada a nova República Riograndense, não definitivamente separada do Brasil. Separada só provisoriamente, até que o resto aderisse para formar uma grande república federativa.
"Eram federalistas, muito mais que separatistas." (Pandiá Calógeras).
Não obstante, quando tentava atravessar o Rio Jacuí, o chefe
farroupilha Bento Gonçalves foi derrotado pelo ex-chefe farroupilha Bento Ribeiro. 
Bento Gonçalves foi levado preso, primeiro para o Rio de Janeiro, em seguida encarcerado no Forte do Mar, na Bahia.
Mas a luta na província continuava.
Bento, Gonçalves, mesmo preso na Bahia, foi nomeado Presidente da República Riograndense, substituído interinamente pelo Vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim, enquanto o Presidente permanecia preso na Bahia.
Neste ínterim, o Presidente Legal Araújo Ribeiro foi substituído pelo Brigadeiro Antero de Brito. Este, providencialmente, logo se desentendeu com o Comandante de Armas Bento Ribeiro, o qual, em represália, alistou-se de novo nas fileiras revolucionárias, vindo a obter várias vitórias para os Farroupilhas, chegando a dominar grande parte do território gaúcho.
Foi aí que Bento, Gonçalves, com a ajuda dos maçônicos, fugiu da prisão na Bahia, regressou ao Rio Grande, reassumiu o comando dos Farrapos, motivou a renúncia do Padre Feijó à Regência provisória, que aguardava a maioridade do legítimo herdeiro ao trono, o jovem futuro Imperador Dom Pedro II.
Com a ajuda do guerrilheiro italiano Giuseppi Garibaldi, naturalmente apoiado pela gaúcha Anita, os Farrapos avançavam mais e mais.
Ultrapassaram as fronteiras e conquistaram Laguna, no sul de Santa Catarina. E tudo isso sob o comando do Ministro da Guerra dos Farrapos e, claro, com a ajuda do casal Garibaldi.
Foi então proclamada a República Catarinense, em 24-7-1839, confederada à República Riograndense.
Em 1840 o adolescente Pedro, com 14 anos, foi declarado de maior idade e coroado Imperador. Apesar de sua pouca idade, revelou muita maturidade, perdoou todos os revoltosos e nomeou, em nome do governo imperial, o novo Presidente Álvares Machado, cuja principal missão era convencer o exército revolucionário republicano a aceitar a anistia imperial e selar a paz. Em vão.
Os Farroupilhas decidiram continuar e consolidar a República Riograndense, transferindo sua capital para Caçapava, e por fim para Alegrete, junto à fronteira uruguaia. Só Bento, Ribeiro, se beneficiou da anistia e voltou a lutar pelos Legalistas.
Os Farroupilhas, demonstrando grande tenacidade, recebendo armamentos e cavalos do Uruguai.
Entretanto, em novembro de 1842, foi nomeado para Presidente e Comandante das Armas do Rio Grande do Sul o famoso Marechal-de-Campo Barão de Caxias, que já antes se notabilizara como exímio chefe militar, tendo sufocado várias revoltas no Maranhão, em São Paulo e em Minas Gerais.
Caxias cortou as linhas de abastecimento com o Uruguai, e com a ajuda de Bento Ribeiro,  venceu os adversários em várias e decisivas batalhas, derrotando o próprio Bento Gonçalves, a esta altura já não mais Presidente Riograndense.
Em várias conferências de paz resolveu-se enviar ao Rio de Janeiro, capital do império, um emissário farroupilha, acompanhado do Cel. Marques de Sousa, representante do Barão de Caxias, mais tarde promovido a Duque.
No Rio de Janeiro foi estabelecida uma paz, honrosa para os dois lados.
À exceção dos generais, foi concedida aos Farrapos uma anistia ampla e irrestrita.
No dia 1-3-1845 Caxias, Bento Ribeiro, Bento Gonçalves e outros anistiados comunicaram às respectivas tropas o fim da Guerra Civil, que durante quase 10 anos tanto atormentou os moradores da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e, transitoriamente, a de Santa Catarina.
Foi um longo capítulo da novela, que, como sempre, teve um final feliz.

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