A TRANSMUTAÇÂO

 

       Originariamente o homem não praticava a agricultura. Até 10000 anos a. C o homem era nômade e vivia do extrativismo, i. e vivia daquilo que a Naturza lhe fornecia graciosamente. O homem vivia de graça, quer dizer da Graça Divina, tal como os pássaros e os animais selvagens de hoje.

       Era o modo de vida paradisíaco de Adão e Eva.

       O mito do Paraíso é pleno de verdade. Adão vivia só e se fecundava a si próprio. E se reproduzia assexuadamente, tal como ainda hoje os vegetais e os animais inferiores. E até as células humanas,  animais e vegetais, se reproduzem e se multiplicam por si só.

       Obedecendo a uma lei natural da evolução, Adão sentiu a necessidade de uma companhia, do sexo oposto. Cedeu uma costela para gerar, por clonagem, uma companheira, igual a ele em quase tudo. As diferenças eram mínimas, o suficiente para possibilitar a reprodução sexuada e gerar uma descendência ligeiramente diferenciada, superando gradativamente a uniformidade genética. A biodiversidade passou a ser uma crescente exigência para a sobrevivência das espécies.

       O modo de vida extrativista, paradisíaco, foi abruptamente interrompido, quando o casal comeu a maçã, o fruto proibido da Árvore do Conhecimento. Imediatamente abriram-se-lhes os olhos, perderam a inocência infantil, cobriram suas partes pudendas com folhas de parreira, sentiram vergonha e medo, e esconderam-se, ante a aproximação do Criador. É que no Jardim do Éden havia uma outra árvore, a Árvore da Vida. Naquele momento a opção foi comer do Fruto do Conhecimento, já em si uma consequência da providencial diferenciação sexual.

       A coragem de infringir uma ordem e, por inciativa própria, mudar o curso da  História.

       Foram sumariamente expulsos do Jardim do Éden, e lá fora, no mundo das incertezas, puderam   ganhar a vida com o suor de seu rosto, parir com dor, cultivar a terra e criar animais.

       Não mais podiam retornar ao passado, àquele Jardim, onde viviam frugalmente, sem excessos, limitados pelo que a Natureza produzia, nas diferentes estações. Transmutavam e assim compensavam eventuais carências.Na porta do Paraíso ficou postado um anjo, armado com uma espada flamejante, para impedir qualquer possibilidade de retorno, para o bem da humanidade. Lá fora, no mundo, o homem era solto para desenvolver plenamente o seu potencial e até um dia alcançar a sua maioridade, e vir  a ser uma individualidade, livre e responsável. Tudo isso em função da diferenciação e da tolerãncia desenvolvida entre os dois sexos opostos.

       Era preciso criar a diferença, e assim desenvolver a magna virtude da tolerância para com o outro.

       A palavra latina "frux, frugis" significa fruto. No Jardim do Éden prevalecia a frugalidade. Não havia excessos. Não havia obesidade.

       Lá fora, Abel e Caim adquiriram conhecimentos e aprenderam a cultivar a terra e criar animais. Um era agricultor, o outro era pastor. E assim, por esforço próprio, podiam produzir, para si e gerar excedentes. Já podiam cometer excessos. Aconteceu a tragédia do fratricídio. Era o ser humano, dando seus primeiros passos,  tentando caminhar sozinho. Pelo cultivo tinham fartura e abundância, mas nem sempre sabiam administrar a opulência. Faltavam-lhes os instintos, substituídos pelo "conhecimento". Ganhavam mais  inteligência do que sabedoria.

       O ser humano primitivo, extrativista, com uma alimentação restrita, desenvolvia um alto poder de transmutar, gerando ele mesmo, em seu próprio organismo, os elementos nutricionais que lhe faltavam na Natureza.

       Na medida em que o homem, dotado de mais conhecimento, foi sendo nutrido e supernutrido pelo excesso de fartura, gradativamente foi perdendo a antiga capacidade da transmutação. Foi ficando cada vez mais dependente do aporte de nutrientes de fora. Desenvolveu o vício da ganância e uma doença muito comum: a obesidade.

       O organismo carente ainda pode compensar a falta por transmutação. O organismo supernutrido será obrigado a eliminar o excedente pelo aparelho excretor. Se não o fizer, os resíduos supérfluos, não eliminados, por constipação permanecem circulando e vão aninhar-se em algum órgão. Como reação o órgão invadido luta e forma um exército de células para repelir o invasor. Se o invasor não é logo repelido e eliminado, o recurso do órgão invadido é aumentar suas defesas e convocar novas células para seu exército. O crescimento pode ficar desordenado e fugir do controle. Forma-se um tumor, benigno. Se não for controlado, evolui para um maligno, de consequências fatais, para aquele órgão e para todos os demais.

       Todo organismo vivo está sujeito a sofrer esse processo, incusive o organismo social.

       Quando um super estado ou uma super empresa extrapola excessivamente de seus limites, acaba criando um câncer social, fatal para o organismo como um todo.  É o que está acontecendo com o império de Donald  Trampo e de Elon Moska. O mundo inteiro está se armando para extirpar esses dois polos cancerígenos. A bem da sociedade norte-americana.

       É a Lei que rege todos os impérios, sem exceção: a Lei Natural.  A árvore alcança o apogeu, produz o máximo, desacelera, as folhas caducas caem, a fotossíntese cessa, a árvore entra em fase letárgica, de vida latente, hibernal.

       É o destino de todo império. Do poderoso Império Britânico resta a Inglaterra. Do imenso Império Romano resta a Itália. Do vasto Império Português sobrou Portugal.

A árvore é perene. No sono hibernal ela regenera suas forças e desperta revigorada na primavera. 

       No período de vida letárgica, latente e sonífera, é quando se  mobilizam as forças de regeneração.

       É no inverno que são elaborados quase todos os preparados biodinâmicos. No inverno é enterrado o chifre-esterco para concentrar forças de transmutação para a primavera seguinte. E assim também os preparados para o composto.

       O preparado da luz, o chifre-sílica, é elaborado no verão e aplicado sob o Sol nascente, no despertar do novo dia. para catalisar na folha verde a capacidade de processar as informações luminosas emitidas pelo Sol. O silício contido na sílica, no cristal de quartzo, é o elemento receptor e processador de informações. Informações catalisadoras. Não só na informática.

       Todo organismo vivo, o solo, o vegetal, o animal e o homem, todos são beneficiados pelas práticas biodinâmicas, de adubação e de nutrição, frugal.

       O que é realmente grave é a supernutrição. É o mal que acomete as sociedades mais ricas, os impérios mais exuberantes. Os governantes mais ambiciosos e seus sequazes. Tornam-se dependentes de aportes, lícitos, ou ilícitos ou suplementares, farmacêuticos ou não. Perdem a capacidade de transmutar e de pensar em certas categorias.

       Bemaventurados os humildes de coração, os que reduzem suas necessidades a um mínimo, o suficiente e o bastável.

       (Guimarães Rosa, A Terceira Margem do Rio)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A SEMANA SANTA

A base da agricultura biodinâmica

A PALESTINA