O SÁBADO


Hoje é dia 30, sábado, o Dia de Saturno, o Saturday. Estamos junto ao sepulcro preparado por José de Arimatéia para receber o corpo de Cristo.

O ambiente revela o peso plúmbeo de Saturno, como sempre fora para os fiéis da Antiga Aliança. Hoje é o Sabbat 

de todos os Sabbats. É como se um guerreiro penetrasse as profundezas de uma caverna para lutar com um monstro draconiano.

Ontem, no meio do dia, quando Cristo inclinava sua cabeça sem vida, a cortina do Templo rasgava-se de cima abaixo. Era algo mais que simples consequência dos tremores de terra. Permitia o olhar livre no interior dos mundos secretos até então. Olhar no Reino do Santíssimo, até ontem acessível apenas ao Sumo Sacerdote.

Desde tempos imemoriais sepulcros eram altares para onde os homens iam em busca do convívio com os deuses e com as almas dos falecidos.

Eram tempos remotos em que a Morte era a irmã do sono. Ninguém questionava a imortalidade.

Ao longo dos milênios os homens desciam cada vez mais fundo na encarnação.

Era cada vez mais intransponível o abismo entre p aqui e o além. Os homens perdiam a noção da vida após a morte.

Os egípcios mumificavam seus cadáveres na tentativa de mantê-los ligados à vida. Crescia o horror pela morte.

Igualmente entre os gregos. No Antigo Testamento extingue-se por completo a noção de imortalidade. Em seu lugar impōe-se a idéia da sobrevivência nos próprios descendentes.

Contudo, nos últimos tempos pré -cristāos, as almas não estavam tão perdidamente limitadas à matéria como hoje.

Mas sentiam que um peso pairava sobre eles. Alienavam-se do mundo espiritual. A antiga irmã do sono era agora um fantasma horrendo. Intensificava-se a espera messiânica entre os povos pré - cristãos.

Neste sábado o corpo situa-se entre a Sexta-feira e o Domingo.

Exatamente naquele lugar, outrora vivenciado como o ponto central do mundo.

Ali existia uma falha na superfície terrestre. A antiga humanidade via nesse abismo a sepultura de Adão.

Essa garganta que dividia a cidade de Jerusalém seria a porta do inferno, a passagem para os mundos inferiores.

Nesse local ergueu-se ontem a cruz e hoje está a sepultura. 

Penetrando na essência dos fatos é como se a cortina se rasgasse novamente para revelar uma outra esfera. O Reino obscuro da Morte abre-se à nossa frente. Naquela escuridão saturnina brilha uma luz inesperada.

Aquele que morreu na cruz, entrou no Reino dos Mortos, livre de todo entorpecimento.

Naquele submundo brilha uma luz solar. Cintila uma centelha de esperança.

Quando na Terra ainda era sábado, no Reino dos Mortos já era Páscoa.

A Terra, na iminência de perder a conexão com os Céus, recebe pela primeira vez o remédio,

 o corpo e o sangue de Cristo.

O germe de uma nova matéria, iluminada. Pela primeira vez o exílio da Morte perde sua efetividade.

O Universo inteiro participa do que ocorre na cruz e na sepultura.

A Comunhão entre o Céu e a Terra cresce ao infinito.Os abalos sísmicos de ontem reabriram a antiga fenda do Gólgota, posteriormente aterrada por Salomão. Toda a Terra veio a ser a sepultura de Cristo. A Terra recebeu a Hóstia até em suas profundezas.

É como consta em nosso Credo:"Ele foi baixado ao sepulcro da Terra." Voluntariamente Ele doou-se.

No altar nada resta como relíquia. Amanhã a sepultura estará vazia. A Terra inteira será sua sepultura.

O significado da vitória sobre a Morte é que a corporalidade espiritual de Cristo  tecida de luz, poderá a partir de amanhã

reluzir em tudo o que é terreno, material. A homeopatia espiritual percorrerá o mundo, levada por aqueles ligados ao Cristo.

 O Cristianismo primitivo sabia desse mistério.

Esse saber, tal como expresso por Inácio de Antioquia, pode ser em nossos tempos, reconquistado pelo pensar lúcido, apurado nas Ciências Naturais.

Assim é também o altar no sacramento renovado da Comunidade de Cristàos: o Ato de Consagração do Homem.

Tal como Maria Magdalena nós também poderemos amanhã bem cedo no Jardim Pascal, encontrar o Jardineiro de um novo mundo.

Amanhã cedo a escuridão de Saturno será iluminada pelo Sol do Domingo de Páscoa.

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