Estado Laico ou Teocrático



Na Antiguidade prevalecia a teocracia entre as nações mais importantes. O rei era sacerdote e acumulava as duas funções, temporais e espirituais, como por exemplo no antigo Egito, onde o faraó era cultuado como governante e como uma divindade, um semi-deus.
Imperadores romanos também se julgavam deuses. Era próprio da cultura daqueles tempos, plenamente justificado naquele momento para o ser humano em sua caminhada evolutiva.
A evolução não pára e segue em sua marcha inexorável.
Chegamos ao terceiro milênio antes de Cristo, entre 3000 e 2000, quando surge na História um povo todo especial, diferente dos outros: o povo hebreu. Tinha três missões bem definidas: o monoteísmo, a lógica e o messianismo.
As três missões harmonizavam-se perfeitamente:acreditar em um só Deus era pré-requisito para concatenar fatos obedecendo a uma lógica predeterminada a qual culminaria com o advento do Messias Salvador, Filho do Deus único, com a missão de trazer um impulso novo à Humanidade, justamente num momento de extrema carência cultural, onde os antigos ideais estavam subvertidos e uma casta privilegiada assumia o poder sobre a massa inculta.
Providencialmente, no ano 50 a.C. a Palestina é invadida e passa ao domínio de Roma, torna-se província do Império Romano. A milenar espera messiânica assume o caráter de espera salvacionista, a esperança em um futuro chefe militar que libertaria o povo hebreu do jugo romano e restabeleceria a teocracia, um messias como líder político e religioso, as duas funções concentradas numa mesma pessoa. O mais do mesmo. O "status quo", sem nada inovar.
Como a História é sábia, ela obedece a um "design inteligente". É regida por sublimes hierarquias superiores. Por isso aconteceu diferente do que se esperava. O Messias Salvador atua na Palestina entre os anos 30 e 33, não como poderoso comandante militar e sim como Mestre para, entre outras coisas, libertar pessoas empedernidas de velhos padrões encardidos, e preparar o Novo.
Quando o fariseu pergunta:"É justo pagar imposto a César?", a resposta é imediata: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!"
Naquele exato momento ficou claramente estabelecida a necessidade urgente de separar o poder político, temporal, do poder religioso, espiritual. São dois poderes distintos, independentes e harmônicos.
A História é sábia e paciente.
São necessários séculos de sofrimento e obscurantismo para que a Humanidade incorpore um conceito óbvio da sociologia política: o Estado Laico. Está consagrado nas Constituições em geral, inclusive na nossa Constituição Cidadã de 1988. Só os Estados teocráticos, islâmicos e judaico, insistem em manter política e religião visceralmente associadas.
E como está a situação entre nós, em nosso país?
Após 32 anos de Constituição Cidadã o laicismo chegou ao papel, mas sair do papel e migrar para a realidade quotidiana é um outro processo, igualmente penoso.
Após 32 anos de vigência oficial do laicismo, ainda assistimos a um quadro assustador,  com vários traços do absurdo, a saber:
-Bancada evangélica com 200 representantes no Congresso
O-Partidos políticos exibem em suas siglas a letra C, significando cristão
-O presidente vocifera aos quatro ventos que é cristão e prega a luta armada para combater a violência
-Apresenta-se como o "messias", (não milagreiro).
-Vive continuamente à espreita de fantasmas( acredita em lobisomem).
-Proclama a "verdade libertadora", mas impede sua divulgação.
-Faz conchavos com ex-inimigos em estilo farisaico.
-Preconiza o "Poder Executivo Absoluto", sem pesos e contrapesos.
- Como um novo Messias do séc. XXI, pretende reconstituir o vetusto Estado Teocrático.
Conclusão: qualquer tentativa de enveredar-se por caminhos anacrônicos e extemporâneos está fadada ao fracasso.
A Sabedoria não permite.

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