ENTENDENDO PUTIN


 A primeira pergunta que se coloca é, até quando a contradição se sustenta, com apoio da maioria.

Vladimir Putin nasceu no período pós-guerra, em 1952, em Leningrado, hoje São Petersburg.

O pai foi ferido na guerra, a mãe sobreviveu ao terrível cerco de Leningrado, que durou mais de 700 dias.

Seu nome Vladimir é significativo. Quer dizer "Dominador do Mundo. "Mir" também quer dizer "paz", o que não vem ao caso. Perdeu seus dois irmãos e, desde pequeno aprendeu, sozinho, a lutar pela sobrevivência.

Superou corajosamente vários obstáculos, formou-se em Direito e ingressou no KGB, o temido Serviço Secreto Estatal.

Seu lema era: controle é tudo.

Incorporou perfeitamente a ideologia vigente na época da Guerra Fria.

A meta era "dominar o mundo", "vladeth mir", e impor o regime

a todos os povos, a ferro e fogo, fiel à doutrina oficial.

Casou-se com uma professora de alemão, e como espião foi transferido para Dresden, Alemanha Oriental, ocupada pela URSS. Aprendeu perfeitamente alemão e transferiu-se de volta a Leningrado.

Como funcionário do Estado percebia que a economia, hiperplanificada, na verdade não beneficiava a sociedade como um todo. A prioridade absoluta era a indústria bélica, em frenética corrida armamentista com o Ocidente.

Essa era a lógica: canalizar esforços para disseminar no mundo a igualdade social por meio do poderio bélico.

Em alguns momentos era iminente o estouro da III Guerra Mundial, URSS x USA.

Nunca aconteceu, graças à política de intimidação mútua com armas nucleares.

Era o confronto de dois sistemas econômicos: um super planificado, estatizado, o outro mais liberalizado.

Na URSS a economia deteriorava a cada dia, e Putin acompanhava esse processo com grande pesar. Via a sua querida URSS dissolver-se por si só, sem guerra, sem revolução, sem oposição. O modelo se desmanchava como um castelo de cartas. Bastava um sopro.

A História pôs em cena Gorbatchov, a "perestroika" e a "glasnosth", reconstrução e transparência.

Em dezembro de 1991 foi decretado o fim do Império Russo, pela segunda vez. Repetiu-se o que acontecera 74 anos antes, em 1917. O fim do Império Russo Czarista, o início do Império Russo Soviético.

A História se repete, mas agora em outro nível, adequado à consciência humana em constante evolução.

É uma reconstituição, num patamar superior.

A Sabedoria da História quis que o mesmo Putin, revoltado, viesse a assumir no ano 2000 os destinos, não de um Império com 14 repúblicas anexadas, e sim de um só país, remanescente, embora imenso,     porém com apenas 140 milhões de habitantes. Enfraquecido e desprestigiado, em consequência da falência múltipla do modelo anterior.

Era demais para um governante suportar essa realidade.

E lançou-se ao trabalho, agora com a economia liberalizada, exatamente o modelo que Putin sempre combateu. Mas a meta, a qualquer custo, era recuperar o antigo status de grande potência mundial.

Sem nunca

esquecer as suas origens, enraizadas na contradição, Putin continuou contraditório. Acreditava piamente na planificação autoritária, mas via seu país crescer com liberdade. A lavagem cerebral que recebera o imprensava num dilema atroz.

O país progredia e liberalizava-se, mas não muito.

O mandatário impunha limites, reprimia e estatizava.

Já na primeira década dominou militarmente os separatistas da Chechênia e da  Ossétia e interveio na Georgia, bem no estilo stalinista. Firmou-se como o homem forte da nova Rússia.

Na segunda década anexou a Criméia, e apoiou, e apoia ainda os separatistas da Ucrânia, assim como aniquilara os separatistas acima mencionados.

Além disso, por conta de várias manobras, garantiu a permanência no poder por 36 anos, superando o próprio Stalin.

E continua sonhando que haverá de reconstruir o Império Russo-soviético, ou melhor o Antigo Império Russo Czarista, sendo ele próprio o novo czar, tal como aquele antigo que se auto intitulava "O Czar de Todas as Russias."

Se o Ocidente permitir que Putin conquiste a Ucrânia, logo ele quererá reconquistar a Polônia, os países bálticos e todas as nações soberanas antes agregadas à Rússia e que agora optam pela Aliança Ocidental.

Putin é uma personalidade dividida. De um lado delira em retroceder ao passado, de outro sabe que agora a realidade é diferente.

E já dá sinais de que está caindo na real. Já está mudando o discurso, retirando as tropas e recolhendo-se em seu lugar.

E o admirável povo russo vai pouco a pouco despertando desse pesadelo que já dura cinco séculos.

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