VITIMIZAÇÃO


Já falamos aqui do problema da auto-afirmação, o sintoma que se manifesta em pessoas que passaram por grandes dificuldades e que muito se esforçaram para superar obstáculos que o cotidiano lhes impõe. É a necessidade de se impor perante os outros, de brilhar mais que os outros. Grande é o sofrimento quando metas mirabolantes não são alcançadas.
A dor será maior se à auto-afirmação acrescenta-se a vitimização.
O portador desse mal apresenta-se continuamente como o pobre coitado, o eterno injustiçado, incompreendido, nunca reconhecido por suas "virtudes."
É uma patologia também passível de ser tratada, seguindo -se uma psicoterapia ou uma auto-terapia.
O esforço pessoal para sanar o mal é de suma importância. É a autocura terapia.
A doença se agrava quando os dois sintomas se somam e o paciente se acomoda e se compraz em exibi-los. Busca uma compensação ao desabafar -se perante os outros, até encontrar um parceiro que lhe dá razão e despeja também as suas mágoas.
A vitimização pode ser individual ou coletiva. É coletiva quando afeta uma comunidade maior atingida por um triste destino comum. A doença pode evoluir para o "delírio persecutório."
Tanto uma pessoa como um grupo podem sentir-se continuamente perseguidos, identificando fantasmas por toda parte, até em pleno dia.
É aí que cabe o tratamento. O esforço sincero de superar fantasias mórbidas e valorizar o positivo, presente à sua volta.
Se o indivíduo ou a coletividade insiste em supervalorizar o negativo, ela própria estará realimentando aquela corrente maligna e perpetuando o quadro.
Um exemplo é a postura assumida por sucessivos governantes em certos países.
Comemoram solenemente tristes acontecimentos passados sob o pretexto de homenagear as vítimas, os heróis dos respectivos embates.
Não deixam curar as feridas. Mantêm -nas abertas para que as gerações possam compadecer-se daquela terrível sina grupal. Acreditam que é preciso sempre gerar mais compaixão.
Desse modo ondas de infortúnio tendem a retornar.
Um exemplo típico é Moscou.
Todos os anos, no dia 9 de maio, o povo se reúne na Praça Vermelha para comemorar, rememorar as agruras sofridas por seus compatriotas numa guerra encerrada há 78 anos atrás.
Pergunta-se: por quantos anos ainda o povo terá ânimo para realimentar a comiseração?
Na solenidade prevalece o revanchismo, também vigorando entre nós, brasileiros.
Em 2022 o clima na Praça Vermelha já foi diferente. Não havia vitórias recentes para ostentar.
Em 2023 a euforia foi nula. Foi até proibido homenagear as vítimas na Ucrânia.
Terá sido um avanço?
Podemos sim esperar que os próximos dirigentes russos, uma vez superado o atual fiasco bélico,
não mais promoverão desfiles de imensos carros alegóricos, ogivais nucleares, e sim festas autênticas, com banda, música, dança, em louvor à primavera.

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