O CON-VÍVIO COM O VIVO
O
CON-VÍVIO COM O VIVO
As presentes reflexões do Diretor
da Seção de Agricultura da Escola
Superior de Ciências Espirituais no Goetheanum, Dornach, Suíça, baseiam-se em
fenômenos conhecidos que demonstram a
necessidade de aprendermos com a natureza, através do convívio com o que vive.
Mesmo sendo agricultura uma atividade diretamente
ligada a processos vivos, ela não deixou de sofrer a influência da modernidade,
corporificada na crescente invasão da tecnologia nos domínios antes ocupados
pela natureza. Essa é uma realidade que não se pode ignorar. O agricultor é
motivado a adotar sempre novas tecnologias, distanciando-se de processos que
ele antes manejava mais de perto.
A Revolução Industrial chega ao campo, a máquina
substitui o homem. Até onde isso é bom?
Certamente é bom para a produtividade e a
lucratividade, mais também é alto o preço pago por esses avanços. Degradação do
ambiente, compactação do solo, poluição, são alguns dos múltiplos efeitos
colaterais nocivos que acompanham as inovações técnicas. E o ser humano, o
agricultor, usuário da tecnologia, também vê atrofiar-se uma série de virtudes
que ele antes desenvolvia, quando ainda atuava em contato mais íntimo com o
natural. Ele tocava a terra, sentia o cheiro, vivenciava processos que abriam
sua percepção para fenômenos sutis. Quanto se perdeu devido à lavra mecanizada,,
às adubadeiras, às colheitadeiras etc? Evidentemente o
agricultor ganhou também, sobretudo mais poder para ampliar seu raio de ação.
Apenas levantamos a questão à guisa de reflexão.
A quantas catástrofes assistimos hoje em dia,
simplesmente porque o paradigma tecnológico foi aplicado sem nenhuma
sensibilidade para com as sutilezas dos processos vivos!
O mal da “vaca louca” ameaça assumir proporções
epidêmicas, justamente em áreas de avançada tecnologia. Eis aí um típico fruto
do desrespeito à natureza animal, na esteira das conquistas modernas.
A inseminação artificial, e depois a transferência
de embrião, em escala mundial, ameaçam criar um perigoso quadro de
consanguinidade, de redução de biodiversidade e consequente aumento de
suscetibilidade a patógenos. A prática da clonagem completa essa série, gerando
ecossistemas mais frágeis.
O que se experimenta em animais, experimenta-se
também em humanos, com a aquiescência das autoridades.
E a lista se prolonga: criações confinadas em massa
(“criações industriais”), arraçoamento computadorizado para altas produções,
manipulações genéticas, formulações e muito mais.
Porém, nem tudo esta perdido. Aqui e acolá
esboçam-se reações à avassaladora investida do “progresso”. Pouco a pouco se
fortalece a corrente do “manejo animal adequado a espécie”. O “plantio direto”
reduz a agressão ao solo e recompõe sua estrutura. Adubação orgânica e biodinâmica
resgatam o vínculo com o arquétipo. O “cultivo mínimo” limita a máquina e abre
espaço para a criatividade. Um novo
gênero de tecnologia gradativamente se impõe.
Concluindo com Manfred Klett reconhecemos que essa
nova relação homem-natureza traz tranquilidade e harmonia ao sistema, base para
uma cultura autêntica.
João
Carlos Avila, consultor
Resenha
do texto “Der Umgang mit dem Lebendigen” publicado no semanário “Antroposofia
no Mundo” de maio/2001, de autoria de Manfred Klett, agricultor, agrônomo e
ex-dirigente da Seção de Agricultura na Escola Superior de Ciências Espirituais
do Goetheanum, Dornach, Suiça.
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