O VIRA-LATA

        


O grande dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, carioca, torcedor do Fluminense, cunhou a expressão que se tornou célebre: "O complexo de  vira-lata."

       Nelson Rodrigues refere-se ao brasileiro em geral, vítima dessa terrível síndrome.

       Analisando a expressão com mais profundidade, veremos que ela toca em dimenões mais sutis.

       O vira-lata é aqui confrontado com o cão de raça, de alta linhagem, tratado e mimado por seu dono, confinado em residências ou quintais, totalmente dependente de cuidados e de alimentação nobre. Se for abandonado, certamente perecerá.

       É bem diferente do cachorro de rua, solto, sem dono, sem cuidadores, entregue a si mesmo na luta para sobreviver, às custas de suas próprias habilidades. Vira e revira as latas, em busca do precioso alimento. Sobrevive penosamente, até que um dia alguém caridoso se compadeça e o leve para sua casa. Será o cão mais apegado e fiel ao seu dono.

       Sua vida de cão vadio o fará desenvolver virtudes que, de outra forma, permaneceriam latentes.

       O cão vira-lata é justamente aquele que, sem nenhum adestramento, desenvolve extrordinárias estratégias de sobrevivência. E ainda ajuda os gatos na caça aos ratos e ratazanas.

       Pessoalmente não vejo nenhuma desonra em sermos comparados ao cão vira-lata, enquanto que a elite se apresenta como o cão de alta estirpe zootécnica.

       Ainda mais se considerarmos os grandes futebolistas, voleibolistas, tenistas,  pugilistas, ginastas e malabaristas que driblam as adversidades com maestria. 

       Não vou aqui chegar ao extremo de ufanar-me por ser vadio.

       Quero apenas desfrutar de algumas vantagens.





Quero só desfrutar de algumas vantagens.

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