A ROUBADA

                                                          A GRANDE ROUBADA


   È sempre mais fácil analisar os grandes fracassos na História dos povos após eles terem acontecido. O Historiador ganha então uma distância maior do fato histórico que ele tenta compreender. Por isso desconfia-se  sempre de análises ligeiras e superficiais feitas " com enfoque profissional" por amadores diletantes, comprometidos com  ideologias  esdrúxulas

   Decorridos 130 anos podemos já comentar as consequências de uma ideologia surgida no final do século XIX: o sionismo.

   A proposta de Theodor Herzl era fundar um Estado Judeu, "Der Judenstaat",  título de sua obra. Propunha fazê-lo em qualquer lugar do mundo, onde houvesse uma "Terra de Ninguém", um Niemandsland", onde o povo judeu, sempre perseguido na diáspora, pudesse viver em paz, só entre si, sem inimigos.

   Várias áreas foram cogitadas, contudo a opção vitoriosa foi a pior de todas. A Terra Prometida foi a Palestina, no Oriente Médio, um protetorado britânico, habitado por diferentes povos, na maioria árabes muçulmanos.

   Nesse sentido foi fundado em 1948 o Estado de Israel, três anos depois do fim do último holocausto.

   Para lá afluíram contingentes de imigrantes israelitas de diferentes países, que se juntavam aos que já lá viviam, conservando sua cultura, sua fé e sua etnia.

   A partir de então o judaísmo se subdividiu em dois grupos:

1)Os israelitas, que permaneceram em suas respectivas pátrias adotivas, na diáspora, ali vivendo próspera e pacificamente,  assimilados e miscigenados com os moradores locais, em legítima superação dos males do anti-semitismo.

   2)Os israelenses, aquela metade da população de fé judaica que optou por emigrar e fundar um novo país, onde seriam acolhidos para viver em paz, entre si, e praticar seus costumes e sua religião, sem correr nenhum risco de holocaustos e pogroms.

   Agora, 75 anos depois, reconhecemos que a realidade é bem diferente.

   Desde o segundo dia da sua fundação, o Estado de Israel vive uma situação de beligerância permanente, contra os moradores locais, os moradores das adjacências, de perto e de longe, adeptos do islamismo, e contra a opinião pública em geral.

   Os israelitas temem hoje o possível recrudescimento do anti-semitismo.

   Desde 1948 os sucessivos governos israelenses foram quase todos ortodoxos do Likud.

   Em 1995, quando o Primeiro Ministro Isaac Rabin, estava prestes a concluir o Acordo de Paz com Arafat, foi assassinado por um jovem fanático, adepto do grupo de Benjamin Netaniahu, o Bibi, hoje Primeiro Ministro em seu quinto mandato.   

   E os colonos ortodoxos, religiosos, uniformizados de preto, continuam avançando além fronteiras, para reconquistar o antigo País da Bíblia, com apoio do Likud,  provocando reações, dentro e fora do país. 

   Neste meio tempo consolida-se o ateísmo como religião predominante entre os jovens israelenses.

   Contudo ambos os sexos continuam  prestando serviço militar, trabalhando e pagando impostos,  para sustentar a casta de colonos ortodoxos, desocupados, alheios às Forças Armadas,  cuja obrigação é praticar a religião e constituir famílias numerosas, com o aval do governo.

   Assim era até recentemente.

   Como a História é sábia, tudo está mudando.

   Após as tentativas do atual governo em restringir as atribuições do Poder Judiciário, na única democracia do Oriente Médio, o povo foi às ruas protestar e exigir a democratização, a igualdade entre os Três Poderes.

   No auge das demonstrações o governo resolveu afrouxar a vigilância e permitir o maior ataque terrorista contra a população. Após o sacrifício de 1000 cidadãos israelenses e o sequestro de 300 refens, as autoridades intervieram instantaneamente e retaliaram com 30 vezes mais intensidade. 30000 moradores da Faixa de Gaza foram eliminados.

   Até aqui os conflitos árabe-israelenses foram curtos e o desfecho rápido, contra inimigos fracos.

   Pela primeira vez em 75 anos, o conflito se arrasta, sem data para terminar. Uma guerra longa, contra um inimigo forte.

   Enquanto não termina o Primeiro Ministro agarra-se ao poder, e desfruta da imunidade parlamentar.

   Só depois que ele cair, aí sim,  responderá pelos quatro processos que correm contra ele na Justiça.

   O povo israelense merece uma chance.

   A Justiça tarda mas não falha.

   

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