ARGENTINA
ARGENTINA
Brasil e Argentina vivem duas situações opostas.
Na Argentina o novo governo adota um modelo rigoroso de sobriedade. É a antiga e conhecida regra: é preciso gastar menos e ganhar mais, quer dizer jamais gastar mais do que se ganha. Essa é a lógica mais elementar, adotada pela Argentina. Em lugar de 39 Ministérios, mantém 16.
É valida para a dona de casa, a administradora do lar, a célula-mater do organismo social. Se cada célula é saudável, o corpo também o será. Daí a importância das finanças domésticas No fim do mês a família paga as contas e sobra alguma coisa para a poupança.
É isso mesmo o que sempre acontece. A família termina o ano no azul.
Só excepcionalmente acontece de um cidadão ou uma família fechar no vermelho.
O mesmo vale para todas as empresas. Só raramente fechará o ano no vermelho. Caso isso aconteça, o empresário logo tomará providências para sanar as falhas. Terá que baixar custos, elevar o faturamento, praticar a sobriedade e restabelecer o equilíbrio.
Caso não o faça declara falência, fecha as portas e muda de ramo, se quiser.
Essa é uma lógica meridiana, ao alcance de qualquer um, por menor que seja sua escolaridade. E qualquer um pode tornar-se um empresário bem sucedido.
No Rio de Janeiro havia um cidadão de nome José Gomes. Era imigrante. Não tinha recursos materiais. Tinha idéias e força de vontade.
Ele começou pequeno, com um carrinho, vendendo angu em praça pública. Era o "Angu do Gomes".
O angu era bom, o negócio cresceu, multiplicou-se e o José Gomes enriqueceu. Tendo sempre o cuidado de gastar menos do que ganhava.
O angu do Gomes ficou famoso, e ele pôde até diversificar. Acrescentou uma salsicha com mostarda e uma bebida. E assim por diante. Contratou muitos funcionários,gerou muito emprego e renda.
Na minha cidade, Valença,RJ, um primo meu, o Linton, começou pequeno, fazendo linguiça caseira, em casa. Acordava de madrugada, fazia linguiça, e saía cedinho para vender de porta em porta.
Muito diligente, conseguiu um bom emprego num açougue do Seu Milton. Progrediu e tornou-se gerente de todos os açougues do Seu Milton.
Aprendeu a lidar com carne e recorreu a um tio, o Tio Gentil, para aprender a negociar.
Montou um abatedouro.
O negócio cresceu, ampliou-se o matadouro, instalado junto ao Rio das Flores, com um cano grosso que despejava todos os resíduos naquele rio, o mesmo que fornecia água para o município vizinho de Rio das Flores, terra natal do Bispo Macedo.
Ainda não existia a Legislação Ambiental.
Veio então a Lei e obrigou-o a investir 300 mil cruzeiros novos numa ETE (Estação de Tratamento de Efluentes). A água efluente tinha que sair tão pura quanto entrava. E a lagoa de estabilização recebia e acumulava os dejectos descartados, gerando chorume para o subssolo e lençol freático , e gás metano para a atmosfera. Tudo dentro das quatro linhas da Lei.
Abatendo 200 cabeças por dia, chegou a ser o sexto maior abatedouro do Estado do Rio. Comprava fazendas, criava gado e plantava café.
Linton era uma raridade. Reunia três virtudes: era negociante, criava gado e gostava de plantar, Dificilmente um pecuarista era também agricultor.
Em 1992, por interferência de um outro primo, o Paulo Veriano, eu fui convidado pelo prefeito eleito da cidade, Dr. Alvaro Cabral, a assumir a Secretaria Municipal de Agricultura, com a proposta de levar a Biodinâmica para a cidade, com apoio da Prefeitura. Era o melhor dos mundos.
Tendo eu permanecido 30 anos ausente da minha cidade, minha nomeação foi contestada pelos correligionários. Dr. Alvaro, médico, muito querido e faixa-preta de caratê, manteve sua decisão. Mudei-me para lá de mala e cuia.
Antes de eu tomar posse, o primo Linton me procurou para saber que idéias novas eu trazia para o Município. Fui claro. O primeiro projeto seria reciclagem e compostagem de resíduos.
Fomos imediatamente ao abatedouro e ali decidimos fazer o tratamento dos resíduos por compostagem. Eram ingredientes preciosos, o esterco, a urina, o conteúdo ruminal, o sangue, destinados a gerar o melhor composto orgânico.
Seria um sucesso, ecológico e econômico.
O empresário Linton adorou a idéia. E ainda receberia minha assessoria especializada, gratuitamente. Por conta da Prefeitura. Linton tinha até apoiado o candidato financeiramente. Mas como era empresário bem sucedido, o Prefeito, meio esquerdista e brizolista, rompeu com ele. Mas como eu era "inocente político", eu tinha livre trânsito entre os adversários, o que muito me ajudou em vários projetos, até em benefício do nosso Prefeito.
A compostagem foi um sucesso.
Só faltava um ingrediente: uma fonte de carbono.
Visitamos uma fábrica de caixões funerários e propusemos ao dono limpar para ele, gratuitamente, todo o volume de serragem que se acumulava no pátio da marcenaria. Periodicamente, recolhíamos a serragem e montávamos as camas nos caminhões boiadeiros. Os caminhões iam para as fazendas apanhar os bois, os bois vinham dejectando esterco e urina na cama, eram descarregados para o abate e as camas descarregadas na área de compostagem. Era o jogo do ganha -- ganha.
Só havia um problema: o mau cheiro. Indicava que o produto era rico em nitrogênio, o primeiro e o mais importante da série NPK.
Cautelosamente propus ao Linton acrescentar uns certos preparados que eu havia conhecido num curso em Stuttgart. Era tecnologia alemã.
Muito objetivo, logo perguntou:
-- Tira o cheiro?
--Tira, garanti.
--Então pega o telefone e encomenda cinco kits.
Liguei para a Deborah, da ABD, Botucatu, encomendei, e na semana seguinte começamos a aplicar, seis preparados no composto e dois no café.
Sucesso absoluto, econômico, agronômico e ecológico.
É que um dos preparados, o 504, a urtiga dioica, tem justamente a propriedade , entre outras, de fixar o nitrogênio na pilha de composto. Com isso o 504,a urtiga dioica, impedia perdas de nitrogênio e evitava poluição atmosférica e nasopulmonar.
Um ano depois Linton chegou para mim e declarou:
-- Olha João, estou usando aquele seu adubo no café. Não tenho mais broca, nem ferrugem , nem bicho-mineiro. Meus parabens, primo!
--Parabens a você que aceditou, respondi.
Até a Prefeitura, adversária, comprou o composto para reformar a principal praça da cidade, o Jardim de Cima.
Sucesso total,político e paisagístico.
A pergunta básica fica no ar: Por que existe tanta gente boa neste país, ganhando mais do que gasta, e o governo, a soma de todos os habitantes e empresas, vive no vermelho?
Todo ano o governo capta bilhões no Mercado Financeiro para cobrir o rombo nas contas públicas.
Não precisa explicar. Eu só queria entender.
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