AS VACAS GORDAS

            AS VACAS  GORDAS 

   Para montar o curso de alemão na Zona Sul, rodei todos os prédios na Av, N. S. de Copacabana, à procura de uma sala para alugar. Encontrei várias.

Mas teria que assinar contrato, apresentar avalista, comprar móveis, aparelhos, etc. Investimento de alto risco. Inviável.

   Conversando com um colega do ICBA, ele sugeriu fazer um convênio com um Colégio de Freiras Alemãs, em Ipanema. Era o Colégio Notre Dame.

Foi a solução. 

E as freiras ficaram orgulhosas de ter um curso de alemão funcionando no Colégio. Ofereciam  salas, secretaria, telefone. Tudo pronto para funcionar.

 Deu certo.Só tinha um problema. As crianças do Jardim de Infância brincavam ruidosamente no pátio, durante as aulas.

Falei com a jardineira e ela me explicou: "Não tem jeito. Criança tem que gritar."

Mudei de convênio.

Fechei com o Colégio Brasileiro de Almeida, também em Ipanema, com vista para a Lagoa.

Melhor cenário, impossível. E mudei-me para Ipanema, a duas quadras do Colégio Fui morar à Rua Nascimento Silva 107, o antigo endereço do Tom Jobim. E o convênio era com o Colégio da família Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. 

Mera coincidência.

Vendi o Fusca e comprei um Dodge Dart de oito cilindros. Uma jamanta.

Eram os anos das vacas gordas.

E nem precisava de carro. Ia a pé de casa pro trabalho.

A clientela era selecionada. Até garotas de Ipanema saíam da praia para estudar alemão.

O curso progrediu. Os melhores professores queriam trabalhar comigo, em regime associativista. Como eu queria, sem carteira assinada e sem CLT. Eramos sócios,  remunerados proporcionalmente às aulas dadas. Eu era o diretor, não remunerado. Eu organizava os horários e reservava mais aulas para mim. No espírito associativista.

Foi um sucesso, pedagógico e financeiro. 

Esta era a minha rotina: de manhã no Acordo Nuclear, à tarde e à noite no Brasileiro de Almeida, até as 21 h. Às 21:30 dava aulas particulares. Às 23 h jantava.

No sábado ia para o Sítio.No domingo fazia a colheita e enchia o Dodge de mercadorias. À tarde pegava a estrada de volta para o Rio.

Como era carro de luxo, a polícia nunca me parava para fiscalizar.

Só uma vez ela me pegou. Alegou alta velocidade.

Eram dois guardas. Eu queria pagar a multa. Discutimos. 

Um deles me chamou para um canto, para conversar. O outro ficou vigiando a carga. Não tinha Nota.

Eu insisti em pagar a multa. Ele pediu para deixar  para ele uma cervejinha. Cervejinha eu não tinha. Na época eu era abstêmio. Por fim , não teve jeitinho. Ele foi obrigado a preencher a Guia de Infrações. Um pouco nervoso, pois não sabia com quem estava falando.

Paguei e prossegui viagem.


À noite fazia as entregas.  Fechei um contrato com a Maison de France para fornecer  os "produits biologiques" para o restaurante a ser inaugurado na semana seguinte. Grande responsabilidade.

Michel, o chef,  havia convidado uns Senadores da França e a Diretoria da Air France para a inauguração. E combinou comigo comprar no atacado e pagar preço de varejo. Melhores condições, impossivel. E ainda faria constar no menu que só usava "Produits Biologiques." Melhor marketing, nem pensar.

Eu havia chegado recentemente da Bélgica e estava com um francês fresquinho. Isso abria portas. Michel ficou admirado. "Produits biologiques, au Brésil?".  "Oui, oui", respondi.

Ficou tudo combinado. Tinha que entregar os produtos no domingo, às 21 h, depois do início e antes do fim da peça que rolava no Teatro da Maison, no segundo andar.  Para não atrapalhar os espectadores.

Foi um sucesso, gastronômico e financeiro.

"Les sénateurs, ils étaient ravis!", comentou Michel, no ato do pagamento.

Dito e Iso eram meus sócios na produção. Dito até comprou um relógio Seiko, importado. E trabalhava de relógio, para não perder a hora. 

Iso comprou um carro, usado.

A produção aumentou, e Michel me encaminhou para o seu amigo, o Patrique, chef do Hotel Méridien. Lá chegando, Patrique mandou descarregar tudo, na hora. Na quarta-feira fui lá acertar com ele. Só fez elogios. A cenoura, ele conseguiu cortar como manda a culinária francesa. 

Tudo isso me animou a passar o curso para os colegas e demitir-me do Acordo Nuclear.

Retirei-me para o Sítio Bonsucesso, " para uma nova sina de existir", (Guimarães Rosa).




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