A NAU

    A NAU

    O analista livre, isento, não preconcebido, distingue perfeitamente as duas faces de duas diferentes moedas: realidade e ficção.  Só aparentemente realidade e ficção se confundem, para o observador míope, incapaz de discernir. É um dos exercícios recomendados por Steiner no livro "A Iniciação". Aprender a distinguir entre o essencial e o não essencial.

       Tomemos aqui o conceito de "imperialismo". A mesma palavra assume conotações opostas em função de quem as pronuncia.

       O imperialismo está hoje presente em toda parte. É alvo de ataque de todos os lados, da direita, da esquerda, de cima,etc.,etc. Existem portanto os analistas especialistas que atacam o imperialismo dos outros de lá, e existem os outros que atacam o imperialismo de outrem de cá,  e vice-versa. O leigo, o leitor de notícias, fica perdido no meio do fogo cruzado. Dái a importância de desenvolver um critério próprio para não cair vítima das propagandas.

       No século XlX a miséria social reinante em diversos países propiciou o surgimento de inúmeras teorias socialistas reunidas num conjunto chamado "Socialismo Utópico. Eram todas teorias fantasiosas, sem nenhum vínculo com a realidade. Todas fadadas ao fracasso.

       Uma das teorias socialistas utópicas das mais conhecidas é a do marxismo, ou materialismo histórico, lançado em 1848. Apesar de seus princípios totalmente irreais, contudo a teoria marxista ganhou grande popularidade, inflamou o ânimo de multidões, e chegou até a ser implantado,experimentalmente, num grande país, no século XX, a Rússia, após esta ser libertada do longo e cruel regime czarista.

       Fiéis à doutrina de Karl Marx, os revolucionários russos aboliram a ditadura do czar e a substituíram, em tese, pela ditadura do proletariado.

       Era utopia? Colocar o operário, o proletário, no topo do poder, como ditador, no lugar do czar? Começava a renhida luta de classes, que terminaria com a vitória de uma classe sobre todas as outras. A classe operária sairia vitoriosa, tão poderosa capaz de eliminar as concorrentes e proclamar a"sociedade sem classes". A sociedade de uma só classe, operária, absoluta, em detrimento de todas as outras.

       Uma outra terrível doença social, energicamente combatida pelos marxistas triunfantes na Rússia, era o imperialismo. Numa sociedade justa, proletária, sem classes, não haveria espaço para o imperialismo, tal como ele vinha sendo amplamente praticado pelas potências européias ocidentais: o império britânico, francês, belga, italiano, holandês, alemão, português, espanhol, austro-húngaro, turco-otomano  e  russo-czarista.

       Na Rússia proletária tudo seria diferente. E como a revolução estava programada para se espalhar geral, a Revolução Mundial cuidaria de impedir qualquer tentativa de imperialismo colonial. Nenhum país cruzaria suas fronteiras para conquistar, colonizar e explorar outros em proveito próprio.

       Uma outra proposta a ser implantada na Rússia revolucionária,e que jamais existira antes, era a democracia republicana. O governo do povo, pelo povo, para o povo. A democracia, administrando a "res publica". O povo gerenciando a sua propriedde. Para os teóricos do marxismo tudo era perfeitamente factível.

       O Partido Único, absoluto, assumiria o poder na pessoa de Stalin, durante 30 anos. ininterruptos. Teoricamente Stalin nâo podia exorbitar de seus limites  Só anexou cinco novas respúblicas. e fortaleceu a União. 

       Gradativamente outras foram sendo incorporadas até totalizar uma União de 15 Repúblicas Socialistas, dirigidas por Conselhos, soviets, ligados ao Soviet Supremo sediado em Moscou. Alguns países livres, autônomos, independentes, como Letônia, Lituânia e Estônia, foram agregados à União. O poder central em Moscou ocupado, não por um russo moscovita, e sim por um georgiano, um "homem de aço", (stal), recém-chegado de uma das províncias agregadas.

       Para expandir um pouco mais a abrangência marxista, Stalin empreendeu duas Guerras de Inverno contra a Finlândia. Perdeu a primeira , e na segunda logrou conquistar 15 % do território finlandês..

       No âmbito do Pacto Germano-soviético, Stalin, aliado a Hitler, invadiu a Polônia  e juntos iniciaram a ll Guerra Mundial. Era a união dos dois socialismos.  O soviet-socialismo queria a perene Revolução Mundial, proletária. O nacional-socialismo queria um Reich de mil anos , ariano. Casaram-se os interesses. Ambos tinham em comum a letra S. URSS e NSDAP. Duas utopias formidáveis., ambas de curta duração.

       A inconsistência soviete rivalizava com a inconsistência nazi.  A aliança se desfêz  e uma guerra encarniçada de quatro anos quase exterminou os dois´bicudos. Por fim a URSS triunfou graças a dois fatores: o talento estratégico- militar do Mal. Jukov e a generosa ajuda das potências ocidentais França, Inglaterra e EUA. Uma vez consolidada a vitória dos quatro Aliados, Stalin rompeu com o Ocidente, refugiou-se atrás da Cortina de Ferro,  e fiel à Revolução Mundial, sustentou uma Guerra Fria contra a democracia, até o fim. 

       Tudo em nome de uma utopia.

       Só mais tarde,em 1991, o colapso da URSS abriu novas perspectivas para o sacrificado povo russo.

       Só agora , em 2024, graças à providencial intervenção da valorosa Ucrânia, novas e amplas possibilidades se apresentam para dois povos irmãos,  russos e ucranianos.

       Não obstante, novos utopistas do século XXl insistem em embarcar na mesma canoa:      

                                                      A Nau dos Insensatos

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