Meu histórico de atleta


Na infância eu era péssimo. Só jogava bola de gude. E no futebol eu acompanhava diariamente o noticiário pelo rádio. A seleção e o Vasco, a base da seleção na Copa de 1950. Sofri minha primeira decepção: a derrota do Brasil para o Uruguai por 2 a 1, por causa de uma falha inexplicável do Barbosa, o maior goleiro da época.

Em 1953 ingressei na Escola Agrotécnica de Barbacena, MG, cuja equipe de vôlei era fantástica. Interessei- me em aprender a jogar.

Em 1954 mudei-me com a família para Três Rios, campeão de vôlei no interior do Estado do Rio. Só perdia para Niterói, capital do Estado.

A convite da elite da cidade, meu chará, João Carlos Quaresma, o melhor do Brasil, foi convidado a transferir-se de Niterói para Três Rios, para incentivar o time trirriense.

Meu irmão e eu jogávamos no juvenil. Após o nosso treino vinham os adultos. E eu me impressionava com as fantásticas jogadas do Quaresma. Sua principal habilidade era atacar em lances improváveis. Bola de primeira, bola baixa, bola longe. O bloqueio abria a guarda,  ele cortava de surpresa e a bola caia no buraco, indefensável.

Eu me encantava com sua maestria. Nos meus treinos eu ensaiava aquelas jogadas.

Em 1958 mudei-me com a família de volta para Valença, nossa querida cidade de origem. Eu e meu irmão, agora um pouco mais fortinhos, recém chegados de Três Rios, eu com 17 e ele com 15 anos, fomos logo escalados para a seleção local. E fui aperfeiçoando as técnicas. Os lances mais impossíveis eram meus preferidos.

Aí aconteceu a grande realização.

Uma partida contra o time da Aeronáutica, do Rio. O local estava superlotado de torcedores. Até a Rádio Clube de Valença estava lá para transmitir o jogo.

Os Aeronautas entraram primeiro na quadra, super treinados, fazendo evoluções, aquecimento em perfeita disciplina militar.

Nosso time entrou meio jururu, certo de uma derrota acachapante. Meu pulso direito estava dolorido. Mas o público nem percebeu. De todos os lados éramos saudados, com entusiasmo.

Começou o jogo. A primeira bola veio para mim, de mau jeito, meio esquisita, salva com grande esforço pelo nosso levantador, o China.

Era como eu queria. Virei o braço, com toda força. Primeiro ponto.

O sangue ferveu, esqueci o pulso, e tudo mais foi acontecendo. Fiz coisa que até eu duvidava. Não era nada fácil. O adversário era muito bom. O jogo e era lá e cá. Indefinido o tempo todo. E a torcida frenética. E o locutor também.

E a partida se estendia. Do lado deles tinha o Loura, o melhor, o capitão, um  louro, canhoto, tinha um saque rasante, difícil de pegar. E nosso time resistia.

Até que finalmente, num lance de rara inspiração, coloquei uma largadinha por trás do bloqueio triplo. Foi a glória.

A torcida invadiu a quadra e fui carregado em triunfo. O locutor mal podia me entrevistar.

E o Loura, o canhoto, saiu da quadra chorando, de tristeza. E nós chorando, de alegria.

É o esporte.

Depois dessa comecei a fazer planos. Queria procurar o Quaresma, em Niterói, e propor fazer um teste no Botafogo.

Mas a idéia ficou só na cabeça.

Segui por outros caminhos, levado pelas circunstâncias.

Só muitos anos depois, morando em Niterói, realizei um antigo sonho. Num domingo à tarde, criei coragem,   procurei o endereço, achei a casa, e fui visitar o Quaresma.

Foi surreal. Recordamos as suas memoráveis partidas, no longínquo ano de 1956, em Três Rios.

Recentemente procurei o nome dele no Google. Tinha fotos e relatos. E a notícia de seu falecimento, com mais de 80 anos de idade.

Fica a lembrança e minha modesta homenagem, a um grandioso atleta, orgulho nosso.


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