O COMPUTADOR

 Na minha juventude eu tive duas oportunidades de trabalhar com computadores, daquela época.

A primeira foi no Exército. Entrei como soldado raso, fiz um curso e fui promovido a cabo. Era na minha cidade, Valença, um quartel de artilharia antiaérea. Nossa missão era derrubar  aviões inimigos com canhões de calibre 90 mm. Daí o nome da unidade: G Can 90, Grupo de Canhões 90 Antiaéreos. 

Eu fui designado para ocupar o posto mais importante da Segunda Bateria. Eu era o Cabo Calculador. Como eu já gostava de fazer cálculos, eu até gostei da minha posição: Cabo Calculador da Segunda Bateria de Canhões 90 Antiaéreos.Um nome pomposo.Patrioticamente eu me orgulhava do meu posto. Defender o espaço aéreo de Valença, com alta tecnologia.

Eu curtia minha função.

Era tudo eletrônico, automatizado. Menos alguns cálculos, estratégicos. E por fim disparar os canhões.

A estratégia era inteligente.

Um radar localizava o avião inimigo e me enviava os dados exatos da sua posição em pleno vôo.

Eu manejava o computador. Um painel de 1m2, cheio de mostradores, contendo as mais diferentes informações.

Meu trabalho era juntar os dados, com rigor máximo, concluir, e passar para os canhões a posição futura do inimigo,ou seja onde estaria o avião no momento em que as balas disparadas o atingissem.

Não podia falhar.

O equipamento era todo real. Só a operação era fictícia.

Na verdade nunca nosso espaço aéreo valenciano fora invadido.

Ah se fosse!

 Frequentemente nos preveniam que a Argentina estava pronta para nos atacar.

Estávamos de prontidão. 

Não aconteceu.

Fiquei no Exército quase um ano.

Dei baixa,  de cabeça erguida. Missão cumprida.

E saí, tranquilo pelo plantão da frente, habilitado a ser promovido a Sargento, quando fosse convocado para a próxima guerra.

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