Durante os anos de 1598 a 1605 a Rússia foi governada pelo Czar Boris Godunov. Não que ele fosse o legítimo Czar. O herdeiro do trono era o menino Dmitrii, filho de Ivan o Terrível, falecido pouco antes. Boris deveria ocupar o cargo, interinamente, até que Dmitrii alcançasse a maioridade.
Boris, porém, ambicioso, contratou matadores para assassinar o tsarevich. Desse modo pôde ser coroado, oficial e eclesiasticamente, como o governante vitalício. aclamado pelo povo: " O Czar de Todas as Rússias."
Boris porém, embora prestigiado pelos nobres, pelos clérigos e pelo povo, vivia atormentado, fustigado pela dor na consciência. Ele reconhecia-se a si próprio como um usurpador do trono.
Frequentemente tinha alucinações e via o menino Dmitrii aparecer em seus aposentos, como que a reivindicar os seus direitos. Boris, desatinado, o expulsava do Palácio.
Outras vezes ele ouvia os gemidos do menino em agonia.. E buscava certificar-se de que Dmitrii estava morto.
Boris exercia o poder, precariamente, pois todos, nobres ,clérigos e o povo, sabiam do triste destino do menino, o tsarevich. Porém calavam-se. ante a autoridade do Czar.
Quem mais sofria com a situação era o próprio Boris.
Destacamos aqui uma passagem das mais tocantes de todo o drama:
O Czar, tendo terminado suas orações, sai, aturdido, da Catedral de São Basílio, acompanhado dos nobres, aduladores. Do lado de fora a multidão acotovela-se, na expectativa de ver o Paizinho e pedir-lhe pão.
Sentado no chão da Praça, maltrapilho, está um mendigo, que acabara de ganhar de uma senhora caridosa, uma moeda de um copeque, que ele guarda com todo cuidado. Seu único dinheiro.
Alguns meninos travessos passam por ali, arrancam-lhe a moeda e fogem correndo. O mendigo, profundamente magoado, chora amargamente a perda da moeda.
O Czar e seu séquito aproximam-se e ouvem o sofrido choro do mendigo.
Segue-se o diálogo:
Czar: Por que ele chora?
Mendigo: O Boris, Boris, roubaram o meu copeque. Ofenderam o mendigo. Mande matar esses meninos, assim como você mandou matar o tsarevich.
O nobre: Cale-se, imbecil! Peguem-no! Prendam-no! Levem-no daqui!
O Czar: Não toquem nele!
O Czar inclina-se e suplica: Reze por mim, homem abençoado!
O mendigo: Não posso Boris. Não posso. Não posso rezar por você. A Mãe de Deus não permite.
O Czar retira-se, acabrunhado, à vista de todos.
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