O BRIC


       Bric rima com breque, o freio do desenvolvimento.

       Eram quatro países, na verdade três países subdesenvolvidos, iludidos de que teriam grande vantagem em submeter-se à China em vez de aos Estados Unidos da América. Brasil, Rússia e India embarcaram nessa canoa, confiando no Grande do Oriente, o muito populoso e pouco viável.

       A China tem muita gente, pouco espaço, pouca matéria prima, pouca liberdade e muita gana de dominar. 

       Desde priscas eras a China acomodou-se à idéia de ser o centro do mundo, o eixo cultural, a etnia superior. Por mais que tenha sofrido faminas coletivas, terríveis pressões do imperialismo, crueldades de Mao tse Tung, só agora, após 30 anos de providencial intervenção do capital, da tecnologia e do empresariado do Ocidente, pode a China celebrar-se como a segunda potência industrial-militar do planeta. Não por mérito de Confúcio, de  Sun yat Sen nem de Xixi Ping. Foi o capitalismo liberal vislumbrado por Deng xiao Ping, com sua filosofia pragmática bem no estilo ocidental: a filosofia do gato. Segundo essa filosofia,  não importa se o gato é branco, preto ou rajado. O importante é que ele coma rato.

       Seu sucessor quer ir além. Parte para a Rota da Seda, para reeditar aquele velho projeto do mesmo nome que outrora existiu e desapareceu. Apoiado no BRIC, cujo cognome é "Sul Global". O Brasil era o único do Sul. Os três restantes, Rússia, Índia e China, situam-se no hemisfério norte. A China forçou o ingresso da África do Sul para reforçar o hemisfério.

       O BRIC virou BRICS.

       O Brasil orgulha-se de integrar o Sul Global e de sustentar a China, com alimentos do Agro e minérios da Vale. O presidente anterior também se orgulhava. Farinha do mesmo saco. O Agro contribui com 4% do PIB.

       Neste exato momento a maior vítima do BRICS é a Rússia.

       Até 24 de fevereiro de 2022 a Rússia vinha progredindo razoavelmente. Fornecia gás e petróleo para a Europa, sobretudo Alemanha, e recebia o preço justo em moeda forte. A renda das exportações beneficiava , em parte, a população, e garantia a permanência de Putin no poder.

       O restante fluía para os ralos da corrupção. Enriquecia os oligarcas e o oligarca-mor e ia parar no Ocidente na forma de iates, mansões, castelos, times de futebol e maciços investimentos em paraísos fiscais offshore. Tudo no Ocidente, não no Oriente. E muito menos em Moscou.

       O razoável desenvolvimento iniciado por Putin no ano 2000 cessou em 24/02/2022. Graças à incompetência putiniana.

       Agora são dois países que determinam a falência do Império Russo: 1) Ucrânia-- a heróica resistência ucraniana representa um sorvedouro de preciosos recursos que não voltam mais aos cofres russos.

       2) China -- o principal país dos BRICS é o maior inimigo da Rússia. Insiste em negar apoio à Rússia em sua aventura na Ucrânia. A China é fiel aos seus interesses. Por mais que Putin lhe implore ajuda e lhe jure paixão eterna, a China não cede. Não apóia e não permite que sua vassala  use armas atômicas contra seus maiores aliados, o mundo capitalista ocidental, o freguês que compra as manufaturas Made in China, paga com moeda forte e garante a sobrevivência da China. 

       O chinês se lembra muito bem da miséria maoísta, e dos 45 milhões de chineses vitimados pela grande fome dos anos de chumbo, da Revolução Cultural.  Foram os anos em que até o sinal vermelho de trânsito significava "Avante". O sinal verde significava "Stop".        O chinês tem memória e se lembra muito bem que foi o Ocidente que transferiu para a China capitais, tecnologias e empresas que, em 30 anos colocaram-na em segundo lugar no ranking mundial.

       A sabedoria de Confúcio subsiste. A China não se dispõe a matar a galinha dos ovos de ouro.

       Quem o fêz foi o tal de Putin em fevereiro de 2022. Amarrado em suas limitações e seus complexos, seguramente jamais leu Dostoievsky, nem Tolstoi, jamais ouviu uma peça de Mussorgsky ou de Borodin. Só soube encher as burras de dinheiro extorquido e entregá-lo aos cuidados dos paraísos fiscais. Dormiu bilionário, os bilhões se congelaram , e acordou pobre. Agora sua fortuna, preservada no congelador, servirá para reconstruir a Ucrânia.

       China e India , do "Sul Global" do Norte,  recusam-se terminantemente a apoiar sua co-irmâ Rússia. Pelo contrário. Ambas impõem as suas condições draconianas e, por caridade, concordam em comprar gás e petóleo russos pela metade do preço, para que a Rússia não morra à mingua. exaurida pelo esforço de guerra.

       Eu próprio passei quatro semanas na Europa em fevereiro, no inverno. Na casa de meu filho Marcelo, em Berlim, não senti frio. Regulávamos a temperatura em 22º C. Era o calorzinho gostoso mantido pelo gás russo, fornecido pela Índia.

       A Índia compra da Rússia com 50% off, revende para a Europa pelo preço justo, embolsa o lucro e a Rússia paga a conta.

        Quanto mais a guerra se prolonga, melhores são os negócios para  Índia e China, às custas da  Rússia.

                                                Isso é brics




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